“Desejo
dirigir-me aos fiéis cristãos para convidá-los a uma nova etapa de
evangelização marcada por esta alegria e indica direções para o caminho
da Igreja nos próximos anos”, escreveu em sua Exortação Apostólica
publicada hoje, o Evangelii Gaudium
do Santo Padre Francisco aos Bispos, Presbíteros, Diáconos às pessoas
consagradas e aos fiéis laicos sobre o Anúncio do Evangelho no Mundo
Atual.
“É uma nova evangelização no mundo de hoje, insistindo nos aspectos
positivos e otimismo”, explicou o cardeal Rino Fisichella, presidente do
Conselho Pontifical para a Nova Evangelização e que admite que o papa é “franco”. “O centro é o amor”, insistiu. “Sem isso, a Igreja é um castelo de cartas e isso é o nosso maior perigo”, declarou.
Abertura
– Um dos pontos centrais é ainda a abertura da Igreja aos fiéis.
“Precisamos de igrejas com as portas abertas” para evitar que aqueles
que estão em busca de Deus encontrem “a frieza de uma porta fechada”.
“Nem mesmo as portas dos Sacramentos se deveriam fechar por qualquer
motivo”, escreveu.
A escolha dos fiéis que deveriam comungar também é atacado pelo papa. “A Eucaristia não é um prêmio para os perfeitos, mas um generoso remédio e um alimento para os fracos”, alertou.
Poder – O documento ainda lança severas críticas a padres e sacerdotes. O papa pede que se evite
as “tentações” do individualismo e alerta que “a maior ameaça é o
pragmatismo incolor da vida cotidiana da Igreja, quando na realidade a
fé se vai desgastando”.
Pedindo
uma “revolução de ternura”, o papa critica “aqueles (religiosos) que se
sentem superior aos outros” e que apenas fazer obras de caridade não
seria o suficiente. O papa também ataca os sacerdotes que “em vez de
evangelizar, classificam os outros”, adotando um “certo estilo católico
próprio do passado”.
Bergoglio
também ataca os religiosos que tem “um cuidado ostensivo da liturgia,
da doutrina e do prestígio da Igreja, mas sem que se preocupem com a
inserção real do Evangelho” às necessidades das populações. “Esta é uma
tremenda corrupção com a aparência de bem. Deus nos livre de uma igreja
mundana sob cortinas espirituais ou pastorais."
As
batalhas por poder dentro do Vaticano também são alvos de ataques do
papa contra a Igreja. Ele apela para que as comunidades eclesiais “não
caiam nas invejas e ciúmes”. “Dentro do povo de Deus, quantas guerras”,
lamenta o argentino. “A quem queremos evangelizar com estes
comportamentos?”, atacou, indicando um “excesso de clericalismo”.
O
papa ataca o “elitismo narcisista” entre os cardeais. “O que queremos?
Generais de exércitos derrotados? Ou simplesmente soldados de um
esquadrão que continua batalhando?”, questionou.
Até
mesmo as homilias (sermão feito nas missas) são alvos de ataque do
papa. “São muitas as reclamações em relação a este importante ministério
e não podemos fechar os ouvidos." Bergoglio insiste que ela não deve ser nem uma conferência e nem uma aula. “Temos de evitar uma pregação puramente moralista”.
Um
ataque especial vai também aos religiosos que não se preparam
devidamente para as missas. “Um pregador que não se prepara não é
espiritual, é desonesto e irresponsável”, escreveu. Quanto às
confissões, o argentino é ainda mais duro: “não se trata de uma câmara
de tortura”.
Mulher
– O papa volta a defender um maior papel da mulher dentro da Igreja.
“Ainda há necessidade de se ampliar o espaço para uma presença feminina
mais incisiva na Igreja, nos diferentes lugares onde são tomadas
decisões importantes”, defendeu. “As reivindicações dos direitos
legítimos das mulheres não se podem sobrevoar superficialmente”,
apontou.
Bergoglio deixa claro a posição da Igreja contrária ao aborto. “Entre os fracos que a Igreja quer cuidar estão as
crianças em gestação, que são as mais indefesas e inocentes de todos,
às quais hoje se quer negar a dignidade humana”, escreveu.
“Não se deve esperar que a Igreja mude a sua posição sobre essa questão. Não é progressista fingir resolver os problemas eliminando uma vida humana”, declarou.
Economia e política – Bergoglio ainda destina uma parte importante de seu texto à situação mundial e não deixa de atacar o modelo econômico que prevalece. “O atual sistema econômico é injusto pela raiz”, declarou. “Esta economia mata porque prevalece a lei do mais forte”.
“Os
excluídos não são explorados, mas lixo, sobras”, atacou. “Vivemos uma
nova tiraria invisível, por vezes virtual, de um mercado divinizado onde
reinam a especulação financeira, corrupção ramificada, evasão fiscal egoísta”. O dinheiro, segundo ele, deve servir, e não dominar.
Para
ele, esse modelo estaria promovendo uma “crise cultural profunda” nas
famílias. “O individualismo pós-moderno e globalizado promove um estilo
de vida que perverte os vínculos familiares”, alertou.
O
papa ainda apela para que a Igreja não tenha medo de se envolver nos
debates políticos e que faça parte da luta por influenciar grupos
políticos para garantir maior justiça social. Para ele, os pastores tem
“o direito de emitir opiniões sobre tudo o que se relaciona com a vida
das pessoas”, escreveu. “Ninguém pode exigir de nos que releguemos a
religião à secreta intimidade das pessoas”, declarou.
Sua
luta contra a pobreza também fica claro no documento. “Até que não se
resolvam radicalmente os problemas dos pobres, não se resolverão os
problemas do mundo”, declarou, fazendo um apelo aos políticos. Em seu
documento, ele volta a defender os “mais fracos”, os “sem-teto, os
dependentes de drogas, os refugiados” e apela a países que promovam uma
“abertura generosa” aos imigrantes. Para ele, existem “muitos cúmplices”
nesses crimes.
O
argentino, porém, não deixa de apelar “humildemente” aos países
muçulmanos que garantam a liberdade religiosa para os cristãos, “tendo
em conta a liberdade de que gozam os crentes do Islã nos países
ocidentais”. “Uma adequada interpretação do Corão se opõe a toda a
violência”, defendeu. Bergoglio, porém, insiste na necessidade de fortalecer o diálogo e a aliança entre crentes e não-crentes.
Apesar
dos desafios, o papa insiste que os fiéis não devem desistir. “Se eu
conseguir ajuda pelo menos uma única pessoa a viver melhor, isto já é
suficiente para justificar o dom da minha vida”, concluiu.
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