Ser cristão é ser um “acontecimento feliz” para o mundo, para
as pessoas que conosco convivem. Eis-nos diante deste lindo desafio: ser
bênção, exalar o perfume de Cristo, ser presença de Deus onde quer que
estejamos. Mas, para isso, precisamos vigiar nosso comportamento e
renunciar a alguma práticas que, muitas vezes, sem percebermos,
tornam-se comuns em nosso meio.
A
palavra bênção possui significados muito profundos e ricos. Entretanto,
dois me chamam bastante a atenção: bênção significa benefício e também
acontecimento feliz. Ao sermos abençoados por nosso Abbá(nosso
Pai-Deus querido) somos cumulados de seus benefícios: “Bendize, ó minha
alma, ao Senhor, e jamais te esqueças de todos os seus benefícios.” “É
Ele que cumula de benefícios a tua vida, e renova a tua juventude como a
da águia” (Sl. 102, 2.5). Portanto, bênção é um benefício, um bem
generosamente dirigido a alguém. Por outro lado, bênção é um favor que
gera satisfação, felicidade, júbilo interior, contentamento, grande
alegria; é um acontecimento feliz. O maior ícone desse favor, desse
acontecimento, feliz foi a encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo:
“Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu
nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo” (Ef. 1, 3).
Nesse sentido, também nós precisamos ser bênção para os outros. Uma vez
abençoados por Deus, sejamos nós uma bênção para os irmãos em Cristo,
para a nossa família, para os nossos lares, para a Igreja, para o Grupo
de Oração do qual fazemos parte, para a RCCBRASIL, para o mundo em suas
diversas implicações e desdobramentos. Precisamos ser esses “vasos
transbordantes do benefício de Deus” e também esse “acontecimento feliz”
na vida das pessoas. É como o Senhor falou a Abrão: “Eu te abençoarei e
exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos” (Gn, 12, 2b).
Ser, pois, agente transbordante do benefício de Deus implica em exalar o
perfume de Cristo (cf. II Cor. 2, 14-15) através de nossas atitudes,
postura, expressões faciais; através de nossos gestos, olhar,
sentimentos, critérios, impulsos; através das prioridades que traçamos
para nossas vidas, das escolhas que fazemos, das palavras que
proferimos. De modo particular, quero me deter aqui na possibilidade de
sermos agentes transbordantes do benefício de Deus através das nossas
palavras. Sabemos que uma palavra tanto pode edificar, reconstruir,
restabelecer, quanto pode ferir, matar, massacrar alguém. São Tiago nos
ensina que um homem ou uma mulher que refreia sua língua é alguém
perfeito, capaz de refrear todo o seu corpo (cf. Tg. 3, 2b). E ele
denunciou o que acontecia naquela comunidade, que não é diferente do que
acontece hoje: “Com ela (língua) bendizemos o Senhor, nosso Pai, e com
ela, amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma mesma
boca procede a bênção e a maldição. Não convém, meus irmãos, que seja
assim” (Tg. 3, 9-10).
Irmãos, sabemos que xingamentos, calúnias, falsos testemunhos, fofocas,
palavras de depreciação e de julgamentos temerários, gritarias,
palavras geradas por impulso de raiva dentre outras não são palavras de
bênção. Precisamos cuidar também para que não caiamos na armadilha de,
movidos algumas vezes pela falsa pretensão de fazermos uma crítica
construtiva, querer, em verdade, nos sobrepor ao outro para diminuí-lo e
colocá-lo em xeque. Por vezes não exalamos o perfume de Cristo através
de nossa língua, mas apresentamos uma espécie de espada bem afiada e
fria a cortar o pescoço dos irmãos e a disseminar coisas que não são de
Deus entre nós. Nossa língua precisa ser comunicadora do benefício de
Deus!
De igual modo, somos chamados a ser um “acontecimento feliz” na vida
das pessoas. Quantas vezes ouvimos: “você foi enviado por Deus para me
levantar” ou “sinto tanta paz quando estou com você ou quando converso
com você”... Ser um acontecimento feliz na vida das pessoas é
simplesmente mostrar a Face de Cristo para elas e conduzi-las para Deus
através de nossas palavras e testemunho credível (cf. PortaFidei,
15). O Papa Paulo VI, ao nos exortar que precisamos ter “fogo no
coração, palavra nos lábios e profecia no olhar”, pretendeu abranger
todos esses níveis da vida cristã: a experiência profunda com Deus que
arde em nós, o impulso ardoroso de anunciar oportuna e importunamente a
Boa-Nova e o testemunho coerente e eloquente do verdadeiro seguimento de
Cristo.
Vinícius Rodrigues Simões
Grupo de Oração Jesus Senhor
Coordenador Nacional do Ministério de Formação RCCBRASIL
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