Uma das obrigações canônicas do pároco é estimular os fiéis a orarem em família, consoante prescreve o cânon 528, § 2.º.
Por Edson Sampel
“Quem não reza vira bicho”. A frase, cunhada por dom Angélico Sândalo
Bernardino, bispo emérito de Blumenau, retrata o âmago da realidade. Com
efeito, se não nos nutrimos quotidianamente na oração, como admoesta o
salmista (Salmo 1), nossa alma enlanguesce. A alma débil é porta de
entrada de males e perversões.
Conheço certa pessoa que era dada à oração diária. O terço também fazia
parte da rotina dela. Além disso, a oração das orações, a missa, jamais
era perdida. Essa pessoa participava da missa todo domingo. De repente,
por um motivo que desconheço, ela abandonou a oração. Virou um
verdadeiro bicho, um monstro; parecia que incorporara outra
personalidade. Entregou-se ao sexo sem responsabilidade e este foi o
ponto de partida para a perpetração de outras devassidões, até a
indiferença completa. Perdi o contato com o indigitado amigo. Rezo por
ele toda noite.
Quando falo em oração, é claro que aludo à oração como elevação da
mente a Deus (santo Tomás de Aquino). Mas, penso, ainda, na frequência
aos sacramentos, sobretudo à eucaristia e à penitência, que são
igualmente formas de oração, em sentido amplo. Para o cristão, abandonar
a prática da oração é a pior adversidade que pode sobrevir. É a morte.
Já Dostoievski, na famosa obra “Irmãos Karamásov”, colocou as seguintes
palavras na boca de uma das personagens: “Se Deus não existe, tudo é
permitido”. Deveras, não há barreiras para o egoísmo, para usar as
pessoas, porque se deixa de enxergar no próximo a imagem de Jesus
Cristo.
Rezar implica sintonia com Deus. Estar com Deus é viver no amor, porque
Deus caritas est, Deus é amor, como no-lo afirma são João, corroborado
pelo papa Bento XVI. O amante não é egoísta; pelo contrário, preocupa-se
com os outros, máxime com os mais pobres. Parar de rezar é penetrar nas
vascas do óbito do espírito. E como não subsiste dicotomia entre corpo e
alma, quem não reza põe tudo a perder: sua alma, sua estrutura
psicossomática.
Peçamos que santa Maria, modelo de oração, nos ajude constantemente.
Que ela afaste de nós o perigo de largarmos a oração, pois, vira-se
mesmo bicho. Eu diria que não rezar é deixar de ser pessoa humana
autêntica. Até mesmo a mente resta turvada, vez que a inteligência só é
límpida quando nos abeberamos na suma inteligência: Deus.
Uma das obrigações canônicas do pároco é estimular os fiéis a orarem em família, consoante prescreve o cânon 528, § 2.º.
Nestes dias de tantas surpresas e expectativas, com a renúncia do papa e
o início da sé vacante no mês que vem, temos de intensificar nossas
orações.
Edson Luiz Sampel é Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia
Universidade Lateranense, do Vaticano e membro da União dos Juristas
Católicos de São Paulo (Ujucasp).
Fonte: Zenit
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